O Canto da Cigarra: Sátiras às Mulheres

por Augusto Gil

Dedicatória
Prefácio
Intróito
A Virtude
O Amor
O Casamento E A Família
Trovas De Pero Botelho
Dísticos I A VIII
Dísticos IX A XVI
Dísticos XVII A XXIII
Graça Imortal
A Sabedoria Das Nações I A V
A Sabedoria Das Nações VI A XI
A Esmo

Junta-te!

A esmo

«É coxo!»... disseste a rir.
E sou. Arrasto um dos pés;
Quero e não posso fugir
De cróias do teu jaez...

Dona do meu coração:
Se a cabeça de repente
Te cortassem, toda a gente
Exclamava: olha o balão!...

Abrte-te o riso traiçoeiro
No rosto, covas sensuais,
Se para ti é coveiro
- Que não será para os mais?...

Embora tomes a mal
A pergunta, não me tenho:
Que despesa faz em cal
Um carão desse tamanho?...

Se a mulher que se pranteia
Tiver um espelho em frente
E vir que a chorar é feia,
- Cala-se imediatamente.

Se querem que eu ressuscite,
Que torne a ter vida nova,
Peçam-lhe a ela que grite:
- Façam-me ao pé outra cova!...

Os teus miolos - certifico,
Vou jurá-lo ante a justiça -
Não encheriam o bico,
O bico duma carriça

Há pouco vi-te um vestido
E agora foste mudá-lo.
Ai! quem tivesse podido
Abraçar-te no intervalo!...

Julguei-te nova e és velha.
Numa rosa de papel
Também já vi uma abelha
Poisar, à busca do mel...

Já não voltas friamente
De mim, o rosto gentil:
Pois olha que a tua frente
Vale menos que o perfil...

Dão-me histéricos desejos
As tuas faces pintadas.
Despintar uma com beijos
- E a outra com bofetadas...

Reles poeta! Reles versos!
Direis, por certo, leitores.
Ó tartufos, é perversos,
Sois porventura melhores?...