Dedicatória
Prefácio
Intróito
A Virtude
O Amor
O Casamento E A Família
Trovas De Pero Botelho
Dísticos I A VIII
Dísticos IX A XVI
Dísticos XVII A XXIII
Graça Imortal
A Sabedoria Das Nações I A V
A Sabedoria Das Nações VI A XI
A Esmo
A Jaime Batalha Reis
Sorgette, ombre santa e benedette d'ell'antica Grecia
Mantegazza, Gli amori degli uomini.
«Eu, esta orgulhosa Lais para quem a Grécia era um brinquedo e que tinha à porta um enxame de jovens amantes, consagro a Vénus este espelho. Não quero ver-me tal qual sou, e não posso ver-me tal qual era.»
Eu, esta Lais de orgulho insubmisso,
A cuja porta vinham os amantes
Como abelhas doiradas ao cortiço...
Eu, esta Lais que tinha dantes
O rosto lindo e ledo;
Eu, para quem a altiva Grécia era
Um leve, fútil e infantil brinquedo;
A ti, beleza que se não altera,
A ti, ó deusa, o meu espelho dou.
- Não posso ver-me como dantes era!...
- Não quero ver-me como agora sou!...
«Houve a idade de oiro, a de prata e a de ferro; a Vénus
de hoje pertence a todas essas três idades; ela honra quem lhe
traz o oiro; não repele o que lhe oferece a prata e até
mesmo acolhe o que só tem moeda de ferro.»
Três idades passaram neste encerro
Da vida:
A de oiro, a de prata e a de ferro.
Vénus, a bela deusa das beldades
Que das alvas espumas foi nascida,
Pertence a todas essas três idades:
Alegre acolhe quem no seu tesoiro
Despeje as mãos a transbordarem de oiro...
Mas nem por isso expulsa ou desacata
Os que - por míngua de oiro - lhe dão prata...
E aos que só moedas de vil ferro dão...
Nem mesmo a esses ela diz que não!
No epigrama de Demódoco, a víbora morde um capadócio. Tomei a liberdade de alterar a narrativa do Poeta por me parecer que o arrevezado patronímico destoa fortemente em versos modernos, mesmo quando eles, como neste caso, intentam reflectir a beleza antiga.
A Teixeira de Carvalho
Um dia uma víbora mordeu num pé
A pérfida Cloé.
Perguntarão: Que sucedeu
à pérfida Cloé ? Morreu ?
Isso morreu ela...
Mal sentiu a mordidela.
Não teve febre, nem ardor, nem nada.
- A bicha é que morreu envenenada!
A Henrique de Vasconcelos
«No outro dia, entrançando uma coroa, achei entre as rosas um Amor. Tomando-o pelas asas, mergulhei-o em vinho; feito isto, engoli-o, e ele agora no meu seui faz-me sofrer, batendo as asas.»
Um dia
Em que tecia,
Com os olhos contentes
E mãos deligentes
Capelas de rosas,
Entre uma das rosas, achei um Amor.
Peguei-lhe nas asas com todo o jeitinho,
Tirei-o da flor,
Deitei-o depois numa taça de vinho,
E ao beber sequioso
O vinho capitoso
- Engoli também o pequenino Amor.
Quis que fosse a minha taça o seu esquife
E o meu peito a sua negra sepultura...
Porém o moroto, porém o patife
Ainda vive! Ainda mexe! Ainda dura!
Furou-me o estômago, mudou de prisão
E faz-me cuidado,
E dá-me aflição
Senti-lo cá dentro, raivoso e irado,
- A bater as asas no meu coração!...